quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Só um génio

ATENÇÃO...ESTE TEXTO NÃO É MEU!

Mas encontrei-o, está bem à vista e quanto a mim só um génio o escreveria. Tem o título "a falta de lei da vida", eu identifico-me, por isso está aqui:


De tudo o que me faz pensar, há uma coisa que me atropela a cabeça.
A idade.
Não a minha, a deles.
Há qualquer coisa que rasga.
Choram-me as estatísticas que eu estarei cá quando os meus pais não estiverem.Muito nublado, bem sei. Mas real.Posso tê-los agora, e abraçá-los com a carne que me deram, mas...e depois?

Vejo-lhes os anos na pele e a pele dá-me saudades.
Saudades do que não vou ter.É a lei da vida, e todas as frases feitas que pregarem nas paredes.Mas a saúde teima em ir à sua vida cedo demais.
Não a deles, a das estatísticas.Hoje tenho-os ali.Visto daqui, dos meus olhos, não envelheceram.Foram emprestando um ou outro ano aos ossos.

Quero o meu pai a ficar envergonhado quando diz "gosto muito de ti filho" e a minha mãe com gotas de amor a marcar passo nos olhos quando diz "gosto muito de ti filho, nunca te esqueças disso"Nunca te esqueças disso.E depois, o que fica?As memórias não são de carne, são de lágrimas.E essas custam mais a abraçar.

Há qualquer coisa que rasga, eu bem disse.Sei que estão na casa dos sessentas. Mais precisão do que essa acelera-me o sangue."São novos". E porque é que não ficam sempre assim?Atrasem o relógio quarenta anos, vá lá.Só desta vez, ninguém vai dizer nada à terra.

Apetece deixar cair uma pedra na roda dentada e parar tudo.A assobiar, para não ter de prestar contas.A palavra filho é patente deles.Quando a dizem há uma manta que protege o coração até cima.Depois da estatística fica só o coração e a manta enrolada aos pés.Podemos sempre puxá-la, mas nunca mais vai tapar tudo.

E não, nunca me esqueço disso.

(não vou dizer quem escreveu, descubram)

1 comentário:

  1. Ofereci este texto à minha este ano, no dia dela. No dia de todas as mães. Porque o Bruno Nogueira para além de grande comediante, é um grande escritor. E porque para abordar certas questoes é preciso ter um grande talento e uma grande forma de estar na vida.

    “Todo o bem que eu puder fazer, toda a ternura que eu puder demonstrar
    a qualquer ser humano, que eu os faça agora, que não os adie ou
    esqueça, pois não passarei duas vezes pelo mesmo caminho”

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